segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Texto 2 sobre a era digital

Leitores do ciberespaço
            Depois de passarmos historicamente das eras oral e escrita, bem definidas por Santaella, apesar de coexistirem com a era digital e que não necessariamente foram deixadas para trás, a nova era, atualmente predominante, chamada de digital define diversos tipos de conteúdos e permite existir diversos tipos de leitores, neste caso, os internautas. Assim, é importante destacar e classificar esses tipos de leitores e o espaço que eles “frequentam”. Existem muitos conceitos a serem discutidos, mas vamos nos dedicar ao conceito de ciberespaço, de leitor contemplativo, movente e imersivo.
No seu nível mais sofisticado, “o ciberespaço equivale a RV, um sistema que fornece um sentido realista de imersão em um ambiente. Trata-se de uma experiência multimídia visual, audível e tátil gerada computacionalmente” (Santaella, 2003, pg.100). Isso significa que o ciberespaço consiste em um lugar qualquer que represente um espaço, onde é criada uma realidade, um ambiente urbano simulado e novas formas de socialização entre os indivíduos. “Por ser ajustar a nossa mente, essa tecnologia é a mais difícil de ser pensada. Nenhuma tecnologia anterior havia penetrado em nós com tanta intimidade” (Santaella, 2003, pg. 101). Santaella afirma que as tecnologias penetraram o ser humano com tanta intimidade porque hoje, os produtos são destinados a grupos, comunidades, e são totalmente voltados para o indivíduo e seus desejos. O ciberespaço se apropria de todos os tipos de linguagem, o indivíduo apenas escolhe o que quer acessar, e talvez essa ligação muito forte entre indivíduo e espaço virtual se deva a essa facilidade de acesso a tudo que se queira pela internet.
Vamos tratar rapidamente dos três tipos de leitores. O contemplativo, como o nome já diz, é aquele leitor que reflete em cima do que lê e medita, onde a comunicação está restrita ao leitor e o livro, uma comunicação silenciosa. O leitor movente ou fragmentado surge em meados do século XX e é resultado da revolução industrial. Este tipo de leitor está diretamente ligado a lógica do consumo, graças a velocidade da reprodução e substituição de mercadorias. Ele é marcado pela instabilidade e pela efemeridade, e também pelos ajustes a novos ritmos de atenção, e claramente foram as mudanças ocorridas neste tipo de leitor que deram origem ao leitor imersivo, virtual. Este último é o leitor que interage com a leitura de textos, “leitura” de imagens e vídeos e músicas. “Ele navega numa tela, programando leituras, num universo de signos evanescentes e eternamente disponíveis, contanto que não se perca a rota que leva a eles” (Santaella, 2004. Pg. 33).
Vivemos na era digital, onde os indivíduos colaboram com conteúdos na internet diariamente. Exemplos disso encontramos no twitter, rede social em que as pessoas postam o que desejam em 140 caracteres. Nesta rede, a interatividade – oferta de escolha pelo acesso não linear ao conteúdo, junto com a possibilidade para o usuário acrescentar ou escrever no texto híbrido – é contínua e um exemplo dentro dessa ferramenta é o twitter do Belém Transito. De qualquer lugar do planeta, é possível falar de algo que está acontecendo para pessoas que estão distantes fisicamente, e o próprio usuário da rede pode verificar e legitimar essa informação, se estiver conectado.
A interatividade está ligada a ação. Santaella, a partir de um autor citado no texto – Kretz – cita seis graus de interatividade: a) interatividade zero nos romances, discos, cassetes, que são acompanhados linearmente, do começo ao fim; b) interatividade linear, quando os romances, discos e cassetes são folheados e saltados em avanços e recursos; c) interatividade arborescente, quando a seleção se faz pela escolha em um menu: videotexto arborescente, jornais ou revistas; d) interatividade lingüística, que utiliza acesso por palavras-chave, formulários, etc.; e) interatividade de criação, que permite ao usuário compor uma mensagem por correspondência; f) interatividade de comando contínuo, que permite a modificação, o deslocamento de objetos sonoros ou visuais mediante a manipulação do usuário como nos videogames.
Além desses graus de interatividade, outro autor é citado no texto de Santaella – Holtz-Bonneau (1985: 133-141) – distingue três modalidades de interatividade: a) de seleção, baseada na seleção de conteúdos, que consiste, por exemplo, em tocar nas teclas de um videocassete para fazer avançar as imagens; b) de conteúdo, que oferece ao usuário a ocasião para modificações simuladas do conteúdo de imagens ou mesmo para a criação de imagens; c) interações mistas, quando há facilidade de acesso, de consulta, seja no videotexto, seja no CD-Rom acoplado ao computador. Depois de falar de diversos graus de interatividade, vamos falar desse processo nas ações comunicativas.
Para que uma transmissão aconteça, é necessário que fonte e emissor sejam pontos de partida da mensagem, um canal para que a mensagem possa passar, entre outros elementos. Hoje, é possível que essa comunicação interativa seja feita por computador, o que muda as noções tradicionais de interatividade. Uma das maneiras mais simples de se utilizar o computador para interagir é o CD-Rom educativo. Segundo Santaella, a finalidade desses programas é levar o usuário por determinados passos realizáveis até atingir certas metas previstas. Mas a interatividade, neste caso, fica nos limites estabelecidos pelo programa. Hoje já se fala, de acordo com outro autor citado por Santaella, em “segunda interatividade”, para as situações em que as máquinas são capazes de oferecer respostas similares ao comportamento dos seres vivos. Para Santaella, o conceito bakhtiniano e também o peirceano, podem trazer uma contribuição importante para isso. Para ambos, a linguagem é sobretudo social e gera sempre uma mensagem em retorno, uma pergunta, ou uma resposta.
Acredito que a maior questão a ser discutida é a fase de adaptação do ser humano a era digital. Vemos que, embora Santaella levante questões e tenha como principal objetivo debater e elucidar os leitores sobre os processos da era digital, a autora tem uma visão mais otimista que pessimista do assunto. Mas é bastante pertinente quando diz que existe um lado negativo, que é quando pode ocorrer o isolamento do indivíduo, já que ele não precisar estar fisicamente presente em uma comunidade graças as comunidades virtuais. Como em todo processo que a humanidade atravessa, é preciso, acima de tudo, levantar questões e definir conceitos, o que a autora faz muito bem.

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