segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Texto 1 sobre a era digital

Cultura de massas, Cultura das mídias, Cultura digital

            É difícil falar de mídias digitais sem falar de alguns estudiosos do assunto. Comecei a estudar o assunto não faz muito tempo, e percebe-se claramente que Lúcia Santaella é uma das autoras que busca incessantemente explicar esse processo formado por diversos conceitos “digitais”. Autora de diversos livros – o que vamos tratar aqui é “Culturas e artes do pós-humano: da cultura das mídias a cibercultura” – que tratam a nova era digital, ela busca estabelecer conceitos e levantar questões importantes para o entendimento e aceitamento da era do acesso. Neste primeiro resumo vamos tratar de conceitos como cultura de massas, cultura das mídias e cultura digital, intrinsecamente ligadas e dependentes das consequências sequenciais de cada uma dessas culturas, mas claramente diferentes em aspectos conceituais.
            Santaella define cultura de massas como a cultura que absorve as formas de cultura erudita e culta, mas também a popular. “Ao absorver e digerir, dentro de si, essas duas formas de cultura, a cultura de massas tende a dissolver a polaridade entre o popular e o erudito, anulando fronteiras. Disso resultam cruzamentos culturais em que o tradicional e o moderno, o artesanal e o industrial mesclam-se em tecidos híbridos e voláteis próprios das culturas urbanas” (Santaella, 2003, pg. 52). Sequencialmente à cultura de massas surge o que Santaella em 1992 chama de cultura das mídias.
            O termo cultura das mídias “procurava dar conta de fenômenos emergentes e novos na dinâmica cultural” e também “inaugurava uma dinâmica que, tecendo-se e se alastrando nas relações das mídias entre si, começava a possibilitar aos seus consumidores a escolha entre produtos simbólicos alternativos” (Santaella, 2003, pg. 53). Conclui-se que a principal diferença entre a cultura de massas e a cultura das mídias é expressivamente definida quando Santaella diz que “Essas tecnologias, equipamentos e linguagens criadas para circularem neles têm como principal característica propiciar a escolha e consumo individualizados, em oposição ao consumo massivo. São esses processos comunicativos que considero como constitutivos de uma cultura das mídias” (Santaella, 2003, pg. 16). Ou seja, a idéia da cultura das mídias é sair da inércia da recepção de mensagens, característica da cultura de massas.
            Vamos definir a cultura digital ou cibercultura como uma cultura onde as mídias se convergem, é na cultura digital que se torna possível acessar várias mídias de uma vez só. No mesmo livro de Santaella citado diversas vezes acima, ela afirma que “é a convergência das mídias, na coexistência com a cultura de massas e a cultura das mídias, essas últimas ainda em plena atividade, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atingiu nos nossos dias e que é uma das marcas da cultura digital” (pg.17). Vale ressaltar características importantes da era digital como o capitalismo – principal causador de tanta produção e produtos, e a globalização – marcada pelas poderosas tecnologias comunicacionais.
             Para Santaella (2003), “a cultura midiática é responsável pela ampliação dos mercados culturais e pela expansão e criação de novos hábitos no consumo de cultura”. A cultura chamada de midiática é marcada pelas instabilidades, deslizamentos e reorganizações constantes dos cenários culturais pós-modernos, que desde meados dos anos 90, passaram a conviver com uma revolução da informação e da comunicação, chamada de revolução digital. Vamos definir mídias segundo Santaella:
“No sentido mais estrito, mídia se refere especificamente aos meios de comunicação de massa, especialmente aos meios de transmissão de notícias e informação, tais como jornal, rádio, revista e televisão. Seu sentido pode se ampliar ao se referir a qualquer meio de comunicação de massas, não apenas aos que transmitem notícias. Assim, podemos falar em mídia para nos referirmos a uma novela de televisão ou a qualquer outro de seus programas, não apenas aos informativos. Também podemos chamar de mídias todos os meios que a publicidade serve, desde outdours até as mensagens publicitárias veiculadas por jornal, rádio e TV. Em todos esses sentidos, a palavra “mídia” está se referindo aos meios de comunicação de massa. Entretanto, o surgimento da comunicação teleinformática veio trazer consigo a ampliação do poder de referência do termo “mídias”, que, desde então, passou a se referir a quaisquer meios de comunicação, incluindo aparelhos, dispositivos ou mesmo programas auxiliares da comunicação (Santaella, 2003, p. 62).
            Hoje estamos vivendo uma virada nas formas de produção, distribuição e comunicação mediadas por computador. A chegada da internet e de todas as tecnologias aliadas a computadores, hardwares e softwares trouxeram mudanças significativas para a sociedade. Hoje, a cultura é desterritorializada e fluida, assim como todo e qualquer tipo de relação, de trabalho, afetivas e midiáticas. Vale ressaltar que a autora coloca a posição que vem defendendo de que “Embora a mistura e a fluidez estejam, de fato, no espírito do nosso tempo, nem por isso se justifica que nosso discurso se entregue resignadamente a uma dispersão quase delirante a la Baudrillard.
            Santaella define que a cultura das mídias não se caracteriza como mídia massiva, pois rompe com os traços fundamentais da cultura de massas, se tratando da uniformidade da mensagem emitida e recebida. A multiplicação de possibilidades de mídias e de suas mensagens e fontes foi dando margem ao surgimento de receptores mais seletivos, individualizados, o que prepara o terreno para a emergência da cultura digital, na medida em que esta exige receptores atuantes, caçadores em busca de presas informacionais de sua própria escolha. Recentemente, passou a circular no Brasil, um conceito que traz bem essa participação do indivíduo colaborativo com as mídias, o crowdsourcing. Se trata de um modelo de produção que utiliza a inteligência e os conhecimentos coletivos e voluntários espalhados pela internet para resolver problemas, criar conteúdos ou desenvolver tecnologias. Um belo exemplo desse modelo, onde a maioria de nós navega diariamente, é o Firefox. Ao invés de surgir uma atualização anual do dispositivo de navegação pela internet, voluntários enviam atualizações do programa que são avaliadas e colocadas em prática automaticamente. Ou seja, a fluidez das informações também neste caso contribui para a melhoria gratuita de dispositivos utilizados por nós, usuários, diariamente.
            É importante ressaltar que todo e qualquer tipo de mudança tecnológica traz consigo diversas mudanças no cotidiano das relações. Santaella coloca que “embora a internet esteja revolucionando o modo como levamos nossas vidas, trata-se de uma revolução em que nada modifica a identidade e natureza do montante cada vez mais exclusivos e minoritário daqueles que detém as riquezas e continuam no poder” (Santaella, 2003, p. 75). Outros autores também colocam essa situação. Quem está no poder, continua exercendo o poder, e de maneira mais absoluta.
            Todas as eras são pré-requisitos para as eras posteriores. Santaella coloca que o contexto mais próximo da cibercultura situa-se a partir da cultura de massas. Mas precisamos deixar claro aqui, que tanto para Santaella, quanto para a autora deste resumo, nenhuma nova mídia anula a que a antecede, apesar de Santaella levantar isso como questionamento. Mas as culturas vão se transformando, se adequando e se adaptando às novas mudanças e se reescrevem. Termino este resumo colocando que a cibercultura é como um novo processo de adaptação do ser humano às tecnologias, e que por enquanto, permanece sem claras definições, mas que por ter como característica a fluidez e rapidez de circulação de produtos e como mercadoria principal a informação, ainda fica difícil acompanhar essas mudanças e repaginamentos da cultura.

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